Amaxofobia: amaxos (carro); fobia (medo) = Medo de Dirigir. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 6% dos motoristas brasileiros sofram com o medo de dirigir; a psicóloga Olga Tessari cogita algo em torno de 50%. Artigos e fontes diversas afirmam a amaxofobia atinja de 70 a 80% das mulheres.
O assunto é tão sério que muitos Detrans no Brasil tem projetos específicos para ajudar os alunos a superarem o medo de dirigir ao longo do processo de habilitação e a Escola Pública de Trânsito de Caxias do Sul incluiu o medo de dirigir em seu Programa de Humanização do Trânsito (PHT).
Embora os homens representem um percentual menor nas estatísticas, eles costumam sofrer mais pressão dos familiares, colegas de trabalho, da sociedade e de si próprios. Pesa a questão cultural de que os homens são “treinados” e incentivados desde cedo para dirigir.
O medo de dirigir movimenta cifras milionárias no Brasil com a venda de aulas extras, kits que prometem ser milagrosos, videoaulas e pacotes de aulas especializadas com instrutores e psicólogos.
Se por um lado o medo de dirigir também fortaleceu no mercado os centros de treinamento para habilitados, por outro, os psicólogos também tem encontrado novas oportunidades profissionais especializando-se em terapias cognitivas comportamentais e outras para tratar o medo de dirigir. A nomenclatura também mudou e em função do serviço especializado e agora eles se chamam “gestores”.
Na Europa, o assunto é levado tão a sério pelas autoescolas que os psicólogos já começam a integrar as equipes pedagógicas para preparar melhor os instrutores e os alunos para lidarem juntos com o medo de dirigir e o peso que ele tem nas reprovações.
Mas a questão é: como os CFC brasileiros, os diretores de ensino e os instrutores estão lidando com o medo de dirigir de seus alunos? Como os estão acolhendo emocionalmente? Estão conseguindo identificar suas necessidades, antecipar-se à elas e ajudar os alunos?
Será mesmo medo de dirigir ou só excesso de ansiedade? Insegurança? Falta de domínio do carro? Evitação do aluno em obter os mesmos resultados? Como a amaxofobia reflete o desempenho dos alunos nas provas práticas? De tudo isso, a única certeza que se tem é que os profissionais que ensinam a dirigir tem de olhar mais seriamente para essa questão.
O medo é uma emoção que pertence a cada um e só o aluno pode dar a abertura necessária para ser compreendido no seu medo de dirigir e permitir-se ser ajudado. Não existe psicólogo, instrutor ou especialista no mundo que tire o medo de dirigir com as mãos se o aluno não se sentir acolhido e seguro para a ajuda emocional de que precisa.
É preciso que o instrutor saiba diferenciar entre o medo, a ansiedade, a insegurança e a falta de domínio do carro. O medo é o instinto de preservação e de defesa mais primitivo do ser humano; comporta a expectativa do que pode acontecer de ruim caso não domine o carro e provoque um acidente. Causa um desejo sufocante de evitar se expor a uma situação que nos incomoda ou ameaça.
A ansiedade está mais para o sofrer por antecedência, negatividade em relação ao futuro, inquietação interna desagradável, ao passo que a insegurança refere-se ao não estar seguro quanto aos resultados de dirigir; sensação de abandono e fracasso antecipado.
O fato é que, na maioria das vezes, o aluno só precisa ser escutado, compreendido e acolhido emocionalmente pelo instrutor, pois o que causa o medo, a ansiedade e a insegurança é a falta de domínio do carro. Tendo domínio do carro o aluno fica menos ansioso, menos inseguro, aprende e dirige mais tranquilo.
Se a reprovação nos testes práticos tem a ver com o nervosismo do aluno como objeto discursivo, isto já nos revela um indicador oculto: os alunos precisam de acolhimento emocional combinado com um ensino e uma aprendizagem que faça sentido, que seja significativa para eles.
Nem todo medo de dirigir é doença, é patológico, precisa de psicólogo ou tratamento especializado. O modo como o aluno enfrenta os outros medos na vida vai se refletir no modo como enfrentará o medo de dirigir nas aulas.
Por isso, converse mais com seu aluno; faça a escuta humanizada de suas dificuldades, de suas inseguranças. Aprenda a fazer o diagnóstico emocional. Compreenda que para quem tem medo de dirigir, uma ação simples e repetitiva na aprendizagem pode ser muito mais complicada, mas que o instrutor pode fazer toda a diferença.
Mais do que uma didática eficiente, é fundamental não ficar só no tecnicismo. É necessário acolher emocionalmente e fazer a escuta atenta de seus alunos. Os resultados serão surpreendentes!
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