As principais profissões e profissionais no Brasil tem código de ética: os advogados, os médicos, os psicólogos, os contadores, os jornalistas e muitos outros. Porquê os instrutores de trânsito e examinadores não podem ter o seu também?
Porquê os instrutores de trânsito, mais de 90 mil em todo o Brasil, ainda não tem o seu código de ética profissional?
Ser uma categoria desunida provavelmente explicaria isso. Por esse Brasil afora tão afeito às influências regionais tem-se sindicatos que são proativos, que tentam mobilizar os seus profissionais. Mas, também temos os sindicatos que não fazem muito por seus afiliados e, por sua vez, os afiliados não se unem.
Nas redes sociais essa semana um debate entre instrutores de trânsito mais parecia uma guerra de ironias e provocações entre os seus próprios pares, mostrando uma discordância ferrenha regada a discussões acaloradas e até ofensas. Fico imaginando como serão as aulas desses instrutores de trânsito, o modo como falam com seus alunos e como se alteram facilmente quando são contrariados em algum ponto de vista que defendem.
Num curso de formação para instrutores que ministrei num determinado estado brasileiro, depois de conhecer a realidade local e interagir com ela, levantamos alguns pontos que precisavam ser melhorados na postura prática e ética profissional de muitos instrutores.
Existe um corporativismo muito grande quando se toca em algum assunto referente à categoria e as críticas são ácidas. Parece que cada um analisa uma questão estrutural, ampla, abrangente olhando para o próprio umbigo. No melhor estilo “eu não faço isso e o problema não existe”. Mas, existe, instrutores! E não se pode acobertar as falhas de seus pares porque se for assim as coisas não vão mudar e quem trabalha certo não merece ser confundido com quem não faz o que deveria ser feito.
Muitos instrutores Brasil afora fumam, comem e ingerem algum tipo de bebida durante as aulas. Água, suco ou refrigerante que seja, isso não é certo, não é ético.
Há instrutores que usam o celular durante as aulas e se distraem conversando, enviando SMS, interagindo no Facebook e o aluno lá, com cara de pastel, ele que se vire.
Alguns dão aulas com o rádio ligado e se a música é boa, aumenta o som, distraindo ainda mais o aluno e sem ensiná-lo a ouvir e valorizar os sons do trânsito.
Pasmem, mas há instrutores que provocam ou respondem as provocações de outros motoristas durante a aula ensinando ao aluno tudo o que não se deve fazer.
Discutir com os candidatos, impor e não propor, fazer piada e chacota com os erros e comportamentos deles, fazer comparações, isso infelizmente existe instrutores, e vocês sabem disso.
Essas são questões denunciadas e comentadas por muitos alunos desses instrutores e por outros profissionais da categoria que não admitem esse tipo de postura e atitudes que envergonham o profissional e a profissão.
A profissão de instrutor de trânsito é linda, é nobre, tem muito valor para quem descobre, reconhece e a exerce como deve ser: com respeito ao aluno, com respeito a seus pares, com amor, com paixão pelo que faz.
Ninguém entra numa profissão em que se passa a maior parte do dia sentado, tomando sol na cara, no braço, exposto a problemas circulatórios de saúde como varizes, trombose, complicações de próstata, ganhando pouco na maioria dos casos e em meio a um trânsito estressante para ficar rico. Isso não.
Reconheço que tem um algo mais em quem está nessa profissão. Existe um quê de paixão, de entrega, de vontade de mudar as coisas para muito melhor.
Tenho amigos instrutores e examinadores de trânsito que são capazes de dar a vida pela profissão, que doaram e continuando doando a vida pela profissão.
Conheço profissionais com 20, 30, 40 anos de lida que não se contentam só com a experiência achando que sabem tudo e procuram aprender cada vez mais, se atualizar, melhorar, aprender sempre.
É neste ponto que defendo um Código de Ética para Instrutores e Examinadores.
Porque a profissão é linda, é nobre, merece reconhecimento, respeito e valorização, mas para isso tem que começar se reconhecendo, se respeitando, se valorizando a si próprio e aos demais colegas.
Conquistas como o reconhecimento legal da profissão podem ter vindo tarde. Mas, nunca é tarde para começar a se pensar num código de ética que seja reconhecido, respeitado e posto em prática por toda a categoria.
Fica a sugestão para se repensar nesse momento histórico em que estamos vivendo no que se refere à formação de condutores no Brasil.
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