Em 1997, a primeira diretora-presidente do Detran/RS, Nereide Tolentino, afirmou que o motorista gaúcho não dirigia bem, pois não respeitava a distância entre os carros e, via de regra, não dava passagem, mesmo que o outro condutor estivesse sinalizando para entrar em uma rodovia. A declaração causou muitos protestos e críticas por parte da opinião pública. Poucos meses depois, Nereide era substituída na presidência da autarquia por Djalma Gautério. Depois de 16 anos, especialistas de trânsito do Estado acabaram dando razão a Nereide; inclusive uma pesquisa da Ufrgs aponta o gaúcho como o condutor mais agressivo do País.
O chefe da Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, pondera que apenas uma parcela dos motoristas no Estado age de maneira irresponsável no trânsito. Grande parte, de acordo com ele, dirige corretamente. Castro cita o caso de um jovem que morreu na freeway, no dia 22 de dezembro. A vítima, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), tinha saído de uma rave e se dirigia à praia, quando o carro saiu de controle e capotou. A vítima estava sem cinto de segurança e foi arremessada para fora do veículo.
Castro aconselha os motoristas a fazerem uma revisão no veículo, nos amortecedores, freios e ver a calibragem dos pneus, antes de ir viajar. Além disso, ressalta o policial rodoviário federal, é muito importante ter atenção enquanto se dirige em rodovias. Grande parte dos acidentes, ressalta Castro, acontece justamente por distração dos condutores. "O motorista tem de estar atento a tudo", afirma. "Além disso, só fazer ultrapassagem com certeza absoluta de que é possível", complementa.
Dirigir com sono é outro fator de risco, que pode gerar um desastre fatal. É preferível descansar e chegar um pouco mais tarde ao destino do que se arriscar. "Não há ser humano que vença o sono", comenta Castro. "Por isso, é importante estar tranquilo e procurar horários adequados para viajar."
Quando for à noite, há necessidade de atenção redobrada, pois o ambiente muda totalmente, com a visibilidade sendo mais curta, pois não existe profundidade. Nesse caso, é aconselhável planejar a viagem, já conhecendo o trajeto. Além disso, ter uma dose de paciência, dando-se conta de que a estrada serve para seguir um caminho e impõe limites para todos. Não é ver uma boa estrada e sair acelerando, pois há curvas e outros obstáculos que precisam ser respeitados. "Não dá para passear, tampouco para ir muito depressa", diz Castro. "Os limites foram planejados por engenheiros, justamente pensando em fatores que afetam o automóvel", explica o chefe da Comunicação Social da PRF.
Compartilhar espaço sem estresse
Para a especialista em trânsito e professora Cláudia Rubenich, as pessoas que tomam a estrada devem adotar certos cuidados. Em primeiro lugar, precisam redobrar a atenção. Também é importante evitar discussões dentro do veículo e manter tranquilidade no trajeto. Devem ainda transportar as crianças nas cadeirinhas. É preciso, aconselha Cláudia, criar um ambiente de viagem harmonioso, inclusive preparando os passageiros de que poderão enfrentar congestionamentos. Principalmente, ressalta ela, não "descontar no pé" (acelerar) para chegar logo, além de ter consciência de que encontrarão aqueles que ficam costurando no trânsito, fazendo ultrapassagens a qualquer custo. "Devem-se minimizar os fatores de estresse', ressalta. 'Trânsito é coletivo, e temos de aprender que devemos compartilhar esse espaço com os outros."
Para Cláudia, muitas pessoas não estão preparadas para andar no limite de uma rodovia. E muitas vezes não se dão conta do grande movimento nos feriados. "O fluxo de carros aumenta enormemente. Nem todos estão acostumados ao ritmo intenso de uma estrada e ao grande número de automóveis."
Também é recomendável, aconselha Cláudia, que haja mais cuidado por parte dos motoristas. Na ida, comenta a especialista, existe muita pressa em chegar e, no retorno para casa, há o mau humor, o 'ranço' de final de feriado e férias. "Muitas pessoas se liberam ao meio-dia do serviço e saem, já estressadas, correndo, querendo chegar logo. Comemoram o Ano-Novo e no outro dia voltam, mesmo de ressaca. Ano-Novo é uma loucura, com tanta gente que às vezes não encontramos lugar na areia, e isso se reflete na estrada."
Cansaço retarda tempo de reação
A psicóloga Sinara Soares, da Divisão de Educação do Detran/RS, orienta que, antes de dirigir, o motorista deve avaliar seu estado. O cansaço, salienta Sinara, faz com que o tempo de reação de uma pessoa leve de 2 a 3 segundos, quando normalmente esse seria de 1,5 segundo. "Outro fator que leva à distração é dirigir comendo ou falando ao celular." Sinara recomenda que os motoristas sempre respeitem o limite de velocidade, façam as ultrapassagens com segurança e mantenham a distância para o carro da frente. "Para se certificar, o motorista que vai atrás deve mirar um ponto de referência e, depois que o da frente passar, contar até três, e só então passar por esse ponto. Com chuva deve contar até oito, por exemplo."
Outro cuidado é com as bagagens colocadas dentro do carro. Devem ser afiveladas. "Em um acidente a 90 km/h, em média, se o objeto não estiver preso, pode vir para cima do motorista e fica em média com um peso 25 vezes superior."
Terça é o dia com mais acidentes
Nas terças-feiras e no horário comercial, os motoristas porto-alegrenses mais batem o carro nas vias da Capital. A conclusão faz parte do levantamento do Grupo BB/Mapfre sobre o comportamento dos segurados em Porto Alegre. Nos meses de janeiro a julho de 2013, período de realização do estudo, foram 2.674 colisões registradas no trânsito da cidade. A pesquisa mostrou que na terça-feira foram 527 ocorrências nas principais vias da Capital. A quinta-feira ficou em segundo lugar, com 457 colisões. O sábado é outro dia "preferido" pelos motoristas para se envolver em colisão no trânsito: foram 433 ocorrências. A sexta-feira, tradicionalmente de grande tráfego, teve 388 casos envolvendo segurados da empresa. Nas segundas e nos domingos foram registradas 206 colisões.
O gerente executivo do Grupo BB/Mapfre, Rinaldo da Silva, destacou que a terça e a quinta-feira são dias em que existe uma melhora na circulação de automóveis na Capital, o que deveria ser melhor aproveitado pelos motoristas. "É nesse momento que surge a falta de atenção do condutor, que decide falar ao telefone, enviar mensagens ou ainda ligar o rádio", explica Silva.
Considerando o perfil dos condutores em Porto Alegre, as mulheres envolveram-se em 1.471 acidentes. Os homens registraram 1.203 colisões. Entre os locais em que acontecem mais acidentes, segundo o estudo, estão vias como as avenidas Ipiranga, Sertório, Cavalhada, Assis Brasil, Farrapos, Independência, Osvaldo Aranha e Protásio Alves.
Segundo Silva, o horário comercial em Porto Alegre concentra 1.818 ocorrências. Já o levantamento dos casos entre 18h e 23h revela que o número de acidentes cai, chegando em 642 colisões. A madrugada registrou 214 casos. Além de Porto Alegre, o levantamento foi realizado em São Paulo, Recife e Curitiba.
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