Em São Paulo, onde o trânsito compromete a qualidade de vida, compartilhar o automóvel pode ser mais barato do que ônibus ou metrô, dependendo da distância e do número de pessoas que dividirão a conta. Isso é o que mostra a Calculadora da Mobilidade Urbana, publicada pelo Estadão.com.br
Um dos mitos derrubados é exatamente o de que o carro é sempre mais caro que o transporte público. Para um percurso de até 20 quilômetros, dividir os gastos de um automóvel popular por quatro pessoas é mais vantajoso do que ônibus ou metrô. No caso do Gol, o trecho por pessoa custará R$ 2,99, contra R$ 3 da tarifa única. Com o carro cheio, o valor seria ainda menor: R$ 2,39. Já em um veículo de luxo, como o Porsche Cayenne, o custo será quase dez vezes maior (R$ 28,43). (Veja a simulação completa e entenda como a ferramenta funciona)
"A depreciação é o principal peso para o carro de luxo. Já para o popular, a maior pressão vem do combustível", diz Nelson Beltrame, professor da FIA e um dos autores do estudo.
A inflação dos transportes deveria ter sido até maior em 2013, avalia o coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, Michael Viriato. "Os preços das tarifas e da gasolina estão represados e devem voltar a subir com força depois das eleições", diz. Mesmo após o reajuste de 4% em dezembro, o combustível segue subsidiado pelo governo.
Além dos carros, a lógica da carona pode ser aplicada aos táxis. Após analisar o itinerário de 600 clientes corporativos, a empresa de gerenciamento de táxis Wappa concluiu que muitas corridas saem de lugares próximos e vão para o mesmo destino. A partir disso, lançou uma função para organizar caronas. "Individualismo e correria ainda são grandes entraves", avalia César Matias, diretor de tecnologia da Wappa.
Para o presidente da WTS BRA e professor da FGV, Fernando Zilveti, a eficiência é o principal desafio. "Quando se fala em administração pública e empresarial, a questão do transporte não envolve apenas o cálculo de custos, mas também saber otimizar os recursos", diz.
Reverter a lógica individualista do transporte é prática que ganha cada vez mais adeptos. Na Europa, estudo da consultoria Frost & Sullivan prevê que a adesão ao compartilhamento de veículos vai saltar de 700 mil pessoas em 2011 para 15 milhões em 2020. Ou seja, mais gente disposta a combinar os meios de locomoção em prol da mobilidade.
Desafios
Na prática, contudo, nem sempre é fácil combinar várias modalidades de transporte. A média de ocupação dos automóveis em São Paulo continua perto de 1,4 pessoa. "Carro lotado a gente só vê em dia de velório, casamento ou jogo de futebol. No dia-a-dia, até dentro de uma mesma família é difícil conciliar os horários e montar uma grade de caronas", avalia o consultor de trânsito e mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), Horácio Augusto Figueira.
Ele alerta que a maioria das pessoas só lembra do custo do combustível na hora de computar o gasto diário com um carro, mas a despesa é muito maior e abarca itens como depreciação e manutenção. Ao incluir o estacionamento, para deslocamentos curtos, o táxi pode ser imbatível frente ao carro. Além da conta econômica, ele lembra que questões como segurança, conforto e tempo de deslocamento - ou mesmo se é um percurso eventual ou cotidiano - são variáveis importantes.
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