Muletas e sessões de fisioterapia, por meses a fio, retratam a dificuldade para voltar à rotina
O trânsito estava parado na Avenida Paulista, no Centro da capital, na tarde 18 de julho. Para chegar mais rápido ao escritório de um cliente, o designer Alexandre Freitas, de 28 anos, que seguia no sentido Consolação da avenida, tentou entrar à direita na Alameda Campinas com sua Yamaha Midnight Star 950. A moto não passava no corredor de carros e, como Alexandre estava na faixa da direita, sair da via de maior circulação fazia sentido para ele.
O designer só não contava com um ônibus que passaria em alta velocidade na faixa exclusiva no momento em que ele faria a curva, prensando seu pé direito entre o pedal da moto e a lataria do coletivo. Alexandre teve diversas fraturas no pé e foi levado ao HC (Hospital das Clínicas), um dos centros de excelência para reabilitação.
Ao contrário do que o DIÁRIO mostrou neste sábado com o caso do motorista Osmar Rodrigues, de 58 anos, que não conseguia vaga para fisioterapia na UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Paraguaçu, na Zona Leste , os acidentados retratados nesta reportagem foram levados ao HC pela gravidade do acidente.
Após três cirurgias em um mês, que envolveram enxertos de pele e osso e outros três meses de fisioterapia, o designer conseguiu colocar o pé no chão pela primeira vez. Ainda que a ajuda de muletas seja indispensável, poder apoiar o pé direito no solo foi uma grande vitória.
O paciente ainda não sabe por quanto tempo ainda vai precisar manter a fisioterapia, mas diz somente estar preocupado em fazer uma boa recuperação. “Ainda não estou pegando pesos, mas faço exercícios para soltar a musculatura”, conta.
O designer passou quase um mês internado para realizar as três cirurgias no pé e recebeu alta no dia 13 de agosto. “Mesmo assim, precisei passar 35 dias indo ao hospital para tomar antibiótico”, lembra. Depois, a frequência no médico passou a ser apenas uma vez por mês.
Apesar de todos os percalços do primeiro acidente de moto em dez anos de carteira de habilitação, o designer garante que não vai parar de pilotar. “Gosto muito de viajar de moto e ainda tenho muito para conhecer.”
Perna é o membro que vai servir como para-choque
O médico Marcelo Rosa de Rezende faz parte da equipe do IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia), do Hospital das Clínicas. Rezende comenta o lento processo de recuperação do designer Alexandre Freitas e do auxiliar de expedição Alex Pinheiro da Silva. Ambos com 28 anos, eles penaram para retomar a rotina.
Como se caracterizou a fratura de Alexandre?
No caso dele, houve um trauma grave no pé. A lesão pegou a parte estrutural óssea, invólucro, ligamentos e pele. Foi necessário colocar placas em vários lugares e tivemos de fazer cobertura de área exposta com enxerto de pele.
A maior parte dos acidentes com motos é grave?
É quase certo que um acidente de moto seja de alto impacto, pois normalmente a perna é o membro que vai bater em alta velocidade. Ela funciona como para-choque.
E o processo de recuperação costuma ser longo?
Isso é muito variável, depende do tipo de lesão. Mas, em geral, pacientes vão ficar ao menos quatro meses em tratamento.
A queda da moto pode afetar mais gente além do acidentado?
Sim. Os acidentados de moto têm perfil econômico de classe média ou baixa e, muitas vezes, são eles quem sustenta a família como motofretistas. A renda deixa de chegar se eles não têm registro em carteira.
Desvio pela contramão custou quatro meses
Chovia muito na noite de 29 de maio quando o auxiliar de expedição Alex Pinheiro da Silva, de 28 anos, teve de entrar na contramão para desviar pela esquerda de um carro que fez uma curva para entrar à direita sem sinalizar. Alex bateu de frente com uma caminhonete que vinha no sentido oposto.
Por causa da pancada, o auxiliar de expedição teve de colocar uma haste abaixo do joelho e outros quatro pinos na perna. Alex foi liberado em dois dias, mas, na opinião dele, o mais difícil veio depois. “Fiz quatro meses de fisioterapia e precisei andar nesse tempo com muletas”, lembra. “Moro em São Mateus (na Zona Leste) e tinha de ir de ônibus ao HC para a fisioterapia. Era horrível porque dificilmente alguém me dava lugar para sentar.”
Atualmente, já sem as muletas e conseguindo andar e subir degraus devagar, Alex conta que toda vez que vê alguém com muletas, procura ajudar da maneira que pode. “Dificilmente, as pessoas que não vivem isso sabem como é duro estar nessa situação”, afirma.
Outra certeza do auxiliar é que ele jamais vai subir em uma moto novamente. “Eu não tinha moto para desfilar, era necessidade. Mas vou abrir mão de algumas coisas para não ter de pagar um preço alto de novo.”
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