A passagem indevida no sinal vermelho é uma das mais mais
comuns infrações de trânsito no Brasil. Apenas como exemplo, no Estado do Rio
Grande do Sul é a sexta infração de trânsito mais cometida, tendo até o
momento, em julho de 2011, acumulado 46 mil ocorrências somente neste ano -
foram 90.694 ao longo de 2010 - e é um hábito dos mais perigosos à integridade
física no trânsito. Veja-se, para ilustrar, aquele acidente na semana passada
que misturou uma advogada de 27 anos e seu SUV, e um empresário com um Porsche,
ambos esmagados junto a um poste em uma avenida. Por que motivo furamos o sinal? Trata-se, a
meu ver, de uma pressa desmedida, na qual não damos ao trânsito seu necessário
tempo. Como escrevi certa vez, ao planejarmos nosso dia, em geral alocamos
nosso tempo com base nas tarefas e compromissos dedicados a esse dia. Nosso
cronograma é assim baseado nas atividades, contudo não prevemos os hiatos de
tempo que seriam necessários para nos colocar fisicamente presentes para essas
atividades. Não destinamos, portanto, um tempo ao trânsito. Pensamos nos compromissos
em si, mas o tempo do trânsito a gente dá um jeitinho. Em geral, um jeitinho
brasileiro. Pensamos que pressionar o motorista de táxi resolve, pensamos que
um pé mais pesado no acelerador de nossos veículos também resolve, afinal, já
que precisamos com certeza o trânsito estaria desobstruído para nós, não? É aí
que entramos em uma das maiores armadilhas do trânsito: a pressa. Como nosso
planejamento levou em conta nossos deveres, sem entretanto a devida importância
ao nosso deslocamento para chegar até eles, nossa agenda fica atrasada. Os
compromissos são, via de regra, inflexíveis, sem possibilidade de adiamento.
Portanto, o que sobra para interferirmos, como senhores do tempo, é o trânsito.
Transformamos, mentalmente, os automóveis em máquinas do tempo que poderiam nos
levar, quase em tele transporte, ao local que precisamos em questão de minutos.
A partir daí, qualquer costura na via pública, para ganhar uns metros, vale a
pena o risco de mudança de pista. Qualquer sinal amarelo vale a pena o risco do
aproveitamento. Qualquer cruzamento
deixa de ser visto como um perigo em potencial para dar
passagem à nossa pressa, afinal de contas os demais condutores entenderão, pois
estamos, excepcionalmente hoje, atrasados. Assim, ganharemos trânsito livre e
preferência em nossa corrida maluca com destino aos nossos compromissos. Pena
que os demais também estão com o mesmo dilema. Em vez de encarar o trânsito
como um ato social, com um tempo merecido e certas convenções a serem
observadas, encaramos como um inconveniente passageiro do qual tentamos o mais
rapidamente sair. Quanto maior nossa pressa, maior também o nível de risco que
estamos dispostos a correr, sempre sabemos que vamos nos organizar melhor no
dia seguinte. Mas nada como chegar inteiro, por sorte, para nos causar uma
provável amnésia em nossas efêmeras resoluções. Será que, com o tempo,
mudaremos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário