A “doença” que mais mata a população masculina do País é uma epidemia nacional e atende pelo nome violência. Na faixa-etária entre 15 e 39 anos, mostram os dados do Ministério da Saúde, as batidas de automóvel, os ferimentos por arma de fogo e os traumáticos acidentes dentro de casa superam qualquer problema de saúde no ranking masculino de mortalidade.
“Sabemos que quatro em cada dez acidentes violentos no Brasil vitimam homens entre 20 e 39 anos”, contabilizou o ministro da saúde, Alexandre Padilha, ao divulgar mais uma etapa da campanha de combate à violência e de prevenção à saúde, em fevereiro.
Quando não morrem, os homens acabam hospitalizados e com sequelas graves. Só em 2012 (de janeiro a novembro – último mês divulgado), foram 413.357 internações de pacientes entre 15 e 39 anos motivadas pelas “causas externas”, com custos total de R$ 407 milhões, segundo levantamento feito pelo iG no banco virtual de dados de saúde do governo federal.
Entre os traumas, os mais recorrente foi o acidente de carro, que engloba condutores, co-pilotos, pedestres e motociclistas. As agressões compõem a liderança. Somados, os dois traumas levaram 10,7 mil homens todos os meses para a internação. O ranking de causas externas é composto ainda por choques elétricos que podem acontecer dentro e fora de casa.
Luciano Luna, Lucas Roth Ribeiro e Silas Espanhol Martins são sobreviventes desta chaga nacional e dão rosto às estatísticas. Enfrentaram os traumas violentos que mais hospitalizam os jovens da nação e chegaram aos programas de reabilitação da AACD, entidade referência nacional em atendimento de mutilados, tetraplégicos e paraplégicos.
A reabilitação expõe a violência como principal mazela dos jovens do País e confirma os jovens do sexo masculino como os mais vulneráveis a este tipo de ocorrência.
Marcelo Ares, gerente médico da AACD, completa que a faixa etária e a condição para chegarem à reabilitação impõem desafios extras no tratamento de recuperação.
“Adquirir uma limitação física é muito diferente do que já nascer com ela”, avalia Ares.
“É um processo desafiador tanto para o paciente quanto para a equipe que o atende”, afirma.
“Eram, em geral, pessoas independentes, produtivas. O trabalho consiste não só em melhorar as questões físicas como restaurar a estrutura emocional. Ainda há o desafio de reincluir o jovem na sociedade, muitas vezes resistente em acolher o deficiente físico”.
Acidente de carro
Lucas Roth, hoje com 22 anos, chegou à reabilitação depois de não conseguir chegar em casa no retorno de uma balada. Aos 16, pegou carona com um amigo embriagado. O automóvel capotou três vezes e, quando abriu os olhos, Lucas não andava, não falava e quase não se mexia.
Segundo o levantamento do iG nos dados dos hospitais, só entre janeiro e novembro do ano passado foram 90.724 homens com menos de 40 anos hospitalizados em decorrência de acidentes do tráfego. Por ano, são 42 mil mortes.
“Temos uma guerra em curso e precisamos mobilizar toda a sociedade civil. Uma hora pode ser um ente querido nosso”, afirmou em coletiva de imprensa sobre a lei seca – criada com o mote de prevenir estas ocorrências - o secretário executivo do Ministério das Cidades, Alexandre Cordeiro.
Roth, que admite também ter bebido todas no dia do acidente, hoje defende com unhas e dentes a legislação que pune com rigor os motoristas alcoolizados.
“Eu fiquei sem falar por quase quatro anos. Na AACD, reaprendi a andar, ficar sentado sozinho, engolir. Nunca imaginei que seria uma vítima do álcool e da direção. Acho que as pessoas só bebem e dirigem porque também não pensam que pode acontecer com elas”, fala o jovem que deixou o sonho de ser militar e hoje quer terminar os estudos para conseguir uma profissão de vendedor
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