As estatísticas de trânsito no Brasil são um desastre. Desconhecemos com precisão até mesmo o número de mortes. Há números que variam entre 20 mil e 80 mil óbitos todos os anos. Sem um diagnóstico correto, como poderemos tratar essa doença social? Como estudioso do assunto, afirmo que esse número deve estar ao redor de 40 mil, o que não é pouco. Nos Estados Unidos, com uma frota de veículos sete vezes maior, a magnitude da mortalidade tem a mesma ordem de grandeza. Quando colocamos os óbitos em perspectiva com a população ou com o número de veículos, por meio do cálculo de taxas, nossos riscos ficam ainda mais evidentes. A mortalidade, porém, é apenas a ponta do iceberg. Aqui temos ainda cerca de 500 mil feridos, cem mil dos quais ficam com lesões irreversíveis.
Quando falamos de acidentes de trânsito, nos atemos muito - e por justas razões - aos aspectos humanos da tragédia. E obviamente essa é a face mais cruel e dolorosa do fenômeno. Muitos dos sobreviventes ficam mutilados, com danos físicos que irão dificultar a continuidade de sua vida profissional. Na maioria das vezes o estrago que fazem os acidentes de trânsito não se restringe à vitima: os familiares e os próximos sofrem também as conseqüências. A dimensão da tragédia é, portanto, muito maior que o sofrimento das vítimas diretamente envolvidas.
Há, no entanto, outra dimensão pouco estudada. Trata-se do custo econômico dos acidentes de trânsito. Quando ocorre um acidente, há todo um transtorno na vida social. O trânsito pára ou fica prejudicado, ocasionando atraso às pessoas que vão ao trabalho, maior consumo de combustível, mais poluição. Um ferido no trânsito demanda resgate (ambulância de bombeiros, com motorista e socorristas). No hospital ele poderá ficar em unidades de terapia intensiva que podem chegar a 20 mil reais por dia. O tratamento do politraumatizado é muito caro. Os custos de emergência e custos médicos são elevados. Depois da fase aguda, vem o período de recuperação, ou reabilitação. Muitos demandam desses serviços para o resto de suas vidas (paraplégicos, tetraplégicos). Nessas circunstâncias, para os amigos e familiares o trabalho ou os afazeres cotidianos serão secundários. Há prejuízos com a perda de produção. Há custos legais. A Previdência Social arca com os dias parados. Se houve morte, o Estado tem que amparar a família, pagando pensão.
Os custos econômicos não são negligenciáveis. Nós elaboramos estimativas aproveitando uma metodologia americana e outra francesa, adaptadas para o caso brasileiro. Nossos cálculos, que a posterior pesquisa do IPEA corroborou, mostram que aí também o problema é seriíssimo: o custo dos acidentes de trânsito no Brasil chega a 25,7 bilhões de reais. É uma sangria econômica impressionante! A tabela abaixo resume os resultados da pesquisa.
CUSTO ANUAL DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL
(EM BILHÕES DE REAIS)
TIPO DE CUSTO VALOR
PERDAS MATERIAIS 7,2
DESPESAS COM SEGURO 1,2
PERDA DE PRODUÇÃO 9,6
CUSTOS LEGAIS 0,2
CUSTOS MÉDICOS 6,0
CUSTOS COM EMERGÊNCIA 0,50
PREVIDÊNCIA 0,7
OUTROS CUSTOS 0,10
TOTAL 25,7
Após encontrar esses números estarrecedores, achei que, se os políticos que não têm sensibilidade para a proteção da vida humana, poderiam se impressionar com a magnitude do prejuízo. O jornalista Alexandre Garcia, que esgrime diariamente sua santa indignação com os desmandos e a falta de civilidade, divulgou a pesquisa no Jornal Nacional da Rede Globo. Isso foi há quatro anos. Parece que ele prega no deserto...
Fazendo as contas, no Brasil todos os dias morrem cerca de cem pessoas no trânsito. Cerca de 1500 ficam feridas. São escândalos diários da dimensão da queda de um avião da Gol ou da TAM. Desastres escandalosos eivados de pura irresponsabilidade. E ficamos apáticos. Sou um otimista, por isso continuo na luta. Mas de quando em quando tenho de concordar com a Simone Beauvoir quando ela disse que “o mais escandaloso do escândalo é que nos acostumamos a ele.”
Nota metodológica:
1. No Brasil não existe uma estimativa que tenha sido adotada como “a correta” sobre os custos dos acidentes de trânsito. O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) fizeram estimativas para os anos 80.
2. Na atual estimativa, utilizei duas metodologias: uma francesa (adotada por Jean-Claude Chesnais) e uma americana (Leonard Evans). Fiz uma “mescla” das duas para adaptar melhor ao caso brasileiro.
3. Estão contemplados os acidentes de trânsito: sem vítimas ou com vítimas (mortos ou feridos).
4. Foi utilizada a escala AIS (Abbreviated Injury Scale) para se estimar o grau de severidade (ou gravidade) dos ferimentos e as probabilidades de morte para cada categoria (sem ferimentos; ferimentos leves; ferimentos moderados; ferimentos sérios; ferimentos severos; crítico; óbito).
5. Foram utilizados dados do National Highway Traffic Safety Administration para estimar o número de feridos em cada escala de gravidade.
6. Todas as estimativas estão em milhões de dólares.
7. Onde não foi possível obter informações seguras e precisas, foram feitas estimativas modestas para o caso do Brasil. Um exemplo é o caso das despesas com seguro: enquanto nos EUA gastam-se 20,86 bilhões de dólares, no caso brasileiro estimamos modestamente esses custos em 500 milhões (O DPVAT gasta muito mais).
Quando falamos de acidentes de trânsito, nos atemos muito - e por justas razões - aos aspectos humanos da tragédia. E obviamente essa é a face mais cruel e dolorosa do fenômeno. Muitos dos sobreviventes ficam mutilados, com danos físicos que irão dificultar a continuidade de sua vida profissional. Na maioria das vezes o estrago que fazem os acidentes de trânsito não se restringe à vitima: os familiares e os próximos sofrem também as conseqüências. A dimensão da tragédia é, portanto, muito maior que o sofrimento das vítimas diretamente envolvidas.
Há, no entanto, outra dimensão pouco estudada. Trata-se do custo econômico dos acidentes de trânsito. Quando ocorre um acidente, há todo um transtorno na vida social. O trânsito pára ou fica prejudicado, ocasionando atraso às pessoas que vão ao trabalho, maior consumo de combustível, mais poluição. Um ferido no trânsito demanda resgate (ambulância de bombeiros, com motorista e socorristas). No hospital ele poderá ficar em unidades de terapia intensiva que podem chegar a 20 mil reais por dia. O tratamento do politraumatizado é muito caro. Os custos de emergência e custos médicos são elevados. Depois da fase aguda, vem o período de recuperação, ou reabilitação. Muitos demandam desses serviços para o resto de suas vidas (paraplégicos, tetraplégicos). Nessas circunstâncias, para os amigos e familiares o trabalho ou os afazeres cotidianos serão secundários. Há prejuízos com a perda de produção. Há custos legais. A Previdência Social arca com os dias parados. Se houve morte, o Estado tem que amparar a família, pagando pensão.
Os custos econômicos não são negligenciáveis. Nós elaboramos estimativas aproveitando uma metodologia americana e outra francesa, adaptadas para o caso brasileiro. Nossos cálculos, que a posterior pesquisa do IPEA corroborou, mostram que aí também o problema é seriíssimo: o custo dos acidentes de trânsito no Brasil chega a 25,7 bilhões de reais. É uma sangria econômica impressionante! A tabela abaixo resume os resultados da pesquisa.
CUSTO ANUAL DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL
(EM BILHÕES DE REAIS)
TIPO DE CUSTO VALOR
PERDAS MATERIAIS 7,2
DESPESAS COM SEGURO 1,2
PERDA DE PRODUÇÃO 9,6
CUSTOS LEGAIS 0,2
CUSTOS MÉDICOS 6,0
CUSTOS COM EMERGÊNCIA 0,50
PREVIDÊNCIA 0,7
OUTROS CUSTOS 0,10
TOTAL 25,7
Após encontrar esses números estarrecedores, achei que, se os políticos que não têm sensibilidade para a proteção da vida humana, poderiam se impressionar com a magnitude do prejuízo. O jornalista Alexandre Garcia, que esgrime diariamente sua santa indignação com os desmandos e a falta de civilidade, divulgou a pesquisa no Jornal Nacional da Rede Globo. Isso foi há quatro anos. Parece que ele prega no deserto...
Fazendo as contas, no Brasil todos os dias morrem cerca de cem pessoas no trânsito. Cerca de 1500 ficam feridas. São escândalos diários da dimensão da queda de um avião da Gol ou da TAM. Desastres escandalosos eivados de pura irresponsabilidade. E ficamos apáticos. Sou um otimista, por isso continuo na luta. Mas de quando em quando tenho de concordar com a Simone Beauvoir quando ela disse que “o mais escandaloso do escândalo é que nos acostumamos a ele.”
Nota metodológica:
1. No Brasil não existe uma estimativa que tenha sido adotada como “a correta” sobre os custos dos acidentes de trânsito. O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) fizeram estimativas para os anos 80.
2. Na atual estimativa, utilizei duas metodologias: uma francesa (adotada por Jean-Claude Chesnais) e uma americana (Leonard Evans). Fiz uma “mescla” das duas para adaptar melhor ao caso brasileiro.
3. Estão contemplados os acidentes de trânsito: sem vítimas ou com vítimas (mortos ou feridos).
4. Foi utilizada a escala AIS (Abbreviated Injury Scale) para se estimar o grau de severidade (ou gravidade) dos ferimentos e as probabilidades de morte para cada categoria (sem ferimentos; ferimentos leves; ferimentos moderados; ferimentos sérios; ferimentos severos; crítico; óbito).
5. Foram utilizados dados do National Highway Traffic Safety Administration para estimar o número de feridos em cada escala de gravidade.
6. Todas as estimativas estão em milhões de dólares.
7. Onde não foi possível obter informações seguras e precisas, foram feitas estimativas modestas para o caso do Brasil. Um exemplo é o caso das despesas com seguro: enquanto nos EUA gastam-se 20,86 bilhões de dólares, no caso brasileiro estimamos modestamente esses custos em 500 milhões (O DPVAT gasta muito mais).
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