Entidades defendem que é preciso intensificar política cicloviária. Prefeitura estabeleceu meta de construir 400 quilômetros de faixas exclusivas. Comerciantes reclamam
Ciclistas e representantes de movimentos cicloativistas se reuniram com o prefeito Fernando Haddad (PT) na Praça das Artes, região central de São Paulo.
Haddad convocou a reunião em meio a protestos de comerciantes e moradores de bairros que sentem que o transporte individual perdeu prestígio na gestão do prefeito, que estabeleceu como meta a construção de 400 quilômetros de ciclovias e de 150 quilômetros de corredores de ônibus.
Moradores da Santa Cecília, bairro da região central, se queixam de que não houve aviso sobre a instalação da via para ciclistas e chegaram a ameaçar o registro de um boletim de ocorrência contra o prefeito. Outros protestos também já ocorreram na Vila Mariana, em Moema e na Barra Funda.
O prefeito tem desenvolvido ações para desincentivar o uso do carro na cidade, como a extensão de faixas exclusivas para ônibus e o aumento do valor de estacionamento na rua, a chamada Zona Azul, além de incentivar o uso da bicicleta com a reserva de espaço de parte da rua para as magrelas.
Mas, se depender dos ciclistas, quem possui um carro não terá vida fácil na cidade. Entre os pontos considerados urgentes eles defendem a redução de velocidade de avenidas e ruas de bairro. Dessa forma, acreditam, aumentam-se a segurança no trânsito e a possibilidade de que mais cidadãos se sintam atraídos a utilizar a bicicleta nos deslocamentos diários.
“A redução de velocidade é uma pauta urgente na cidade. Não pode ter avenidas com limite de mais de 40 quilômetros ou, na pior das hipóteses, de 50 quilômetros por hora. Não pode haver. E hoje ainda ainda tem muitas de 70 km, 80 km por hora. O interbairro não pode ser de mais 30 km. A gente tem que estabelecer as zonas de 30 km. Elas é que mantêm a vida no bairro, as coisas acontecendo”, afirmou o diretor de Participação da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Daniel Guth.
A associação acredita que, com a consolidação da infraestrutura cicloviária, o que inclui paraciclos e bicicletários, associada a campanhas de incentivo ao uso, em cinco anos, entre 5% e 10% dos deslocamentos da cidade poderão ser feitos de bicicleta. Atualmente, esse número não passa de 1%.
Os ativistas também querem que a prefeitura realize uma pesquisa de origem e destino específica para usuários de bicicleta. Atualmente, este levantamento é elaborado a cada dez anos pelo Metrô, mas seu método é considerado inadequado para se obter informações precisas sobre o uso da bicicleta.
“A infraestrutura bem-feita, quando bem implementada, traz mais gente. Isso vale para qualquer meio de transporte, se se construir mais avenidas, mais túneis você terá mais carros nas ruas porque está se estimulando o uso pela infraestrutura. Para transporte coletivo é a mesma coisa”, exemplifica o representante da Ciclocidade.
Para Guth, a construção da infraestrutura traz novos usuários para o modal, que hoje responde por menos de 1% dos deslocamentos feitos na cidade, já que oferece mais segurança, e em breve irá também beneficiar o comércio de rua. “Estamos buscando o diálogo com as associações comerciais para explicar que a infraestrutura vai gerar demanda de novos clientes, de pessoas que podem consumir. Temos dados de cidades de fora do país que mostram que o usuário de transporte coletivo e o motorista são aqueles que têm a menor propensão a parar em um comércio de rua e consumir. Já os ciclistas e os pedestres fazem mais isso”, pondera. “Como não tínhamos na história de São Paulo quase nenhuma infraestrutura, os 0,8% deslocamentos feitos na cidade eram feitos por verdadeiros guerreiros, que entendem os benefícios dela.”
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