Professor da USP de São Carlos, SP, defende mais campanhas educativas. Descumprimento da lei contribui para perdas de vidas em acidentes trágicos
Item de segurança obrigatório nos veículos para motoristas e passageiros, o cinto de segurança do banco traseiro é ainda ignorado e quase nunca usado, alerta José Bernardes Felex, especialista em transporte e trânsito da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. Para ele, é necessário investir em campanhas educativas e de conscientização aos condutores, pois o descumprimento da lei tem como consequência a perda de vidas em acidentes trágicos.
Na noite de domingo (27), quatro das oito pessoas que viajam em um Gol morreram, entre elas duas crianças de 5 e 6 anos, na Rodovia Professor Boanerges Nogueira de Lima (SP-340), que liga Aguaí a Casa Branca. Em Araraquara, sete pessoas morreram e outras sete ficaram feridas depois que uma van capotou na Rodovia Washington Luís (SP-310), na madrugada do dia 14. As vítimas não usavam cinto de segurança, segundo os familiares.
O artigo 65 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) cita que é obrigatório o uso do cinto de segurança para condutores e passageiros em todas as vias do território nacional, tanto para quem está no banco da frente, como no banco de trás do veículo. A multa em caso de descumprimento é de R$ 127,69, além de cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por infração grave.
Ainda assim, a fiscalização não dá conta da demanda, explicou o especialista, porque não é possível parar todos os veículos que passam por uma rodovia, por exemplo. "A multa tem que ser documentada, por fotografia ou radar. Caso contrário, o motorista recorre e não há quem o faça pagar. É muito difícil", afirmou.
Felex, entretanto, questiona a eficácia das autuações. "Francamente, atingir o bolso é uma forma de preocupar a pessoa, mas nunca de educar. Nesse caso, precisamos ressaltar a capacidade de amor à vida que as pessoas devem ter consigo e com os outros. Falta consciência da necessidade do uso do cinto", ressaltou.
Falta de hábito
A Polícia Rodoviária de Casa Branca informou que um dos focos da fiscalização cotidiana nas estradas é verificar o uso do cinto de segurança entre os ocupantes dos veículos, assim como da cadeirinha de crianças, para tentar diminuir os acidentes com vítimas fatais. Muitos motoristas flagrados sem o equipamento de segurança alegam falta de hábito. Para a corporação, entretanto, falta educar condutores e passageiros.
Ainda segunda a polícia, o acesso à proteção de segurança nos bancos traseiros de alguns veículos é dificultado pelos próprios motoristas que deixam o acessório embaixo do assento, quando deveria ficar exposto. Em caso de uma colisão frontal, a pessoa sentada atrás sem o cinto pode ser arremessada nas costas do passageiro que está na frente e esmagar a vítima contra o painel do veículo.
"A quantidade de movimento é muito grande. De repente o carro para, mas a energia para fazer o movimento continua na pessoa e, sem o cinto, é como se ela tivesse um motor que a empurrasse para frente", explicou o especialista da USP.
Segundo Felex, nem só em alta velocidade o uso do acessório pode salvar vidas. A falta do cinto de segurança pode ser fatal para um passageiro ou motorista a uma velocidade média de 50 km/h em uma colisão. E há risco também para quem trafega abaixo dessa velocidade.
"Imagine uma pessoa que usa óculos viajando em um veículo a 20km/h. O carro para instantaneamente, o passageiro bate o rosto no banco dianteiro e ao quebrar a lente, ele fica cega. Isso aconteceu com o filho de 12 anos de um amigo, que tirava o carro da garagem. O pai ainda respondeu por tentativa de homicídio. A mesma situação pode acontecer em uma rodovia, mas com resultados ainda mais trágicos", comparou o professor.
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