Em 2013, quase 10% dos acidentes em rodovias federais aconteceram em apenas 1,47% da malha de 68 mil quilômetros espalhada pelo país. Segundo levantamento da Polícia Rodoviária Federal, essas ocorrências se dividem por cem trechos de estrada, que somam aproximadamente mil quilômetros de extensão. Ao todo, foram 50.145 acidentes, com 838 mortos e 20.307 feridos nesses locais durante o ano passado.
O trecho de rodovia campeão de acidentes está entre os quilômetros 200 e 210 da Translitorânea (BR-101), em Santa Catarina, e foi concedido à Autopista Litoral Sul em 2008. Outro ponto crítico está entre os quilômetros 490 e 500 da Fernão Dias (BR-381), na altura de Betim, em Minas Gerais. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) prevê que as obras de duplicação da rodovia no trecho de Belo Horizonte a Governador Valadares estarão concluídas em três anos, com um custo estimado de R$ 4 bilhões. Além da duplicação das pistas, o projeto prevê viadutos, túneis e a correção do traçado para reduzir curvas sinuosas no trajeto.
Outros trechos de administração federal no topo da lista de acidentes estão na BR-316 (Pará), BR 262 (Espírito Santo) e BR 222. "Essas três rodovias já são duplicadas, contam com ruas laterais, acostamento, passarelas, sinalização adequada e barreiras eletrônicas", descreve o DNIT. "Mas são trechos totalmente urbanizados, com aumento crescente do número de veículos, fluxo local e da população limítrofe à rodovia." O fenômeno também se repete em alguns trechos da rodovia Presidente Dutra, citados no relatório da PRF.
O DNIT informa ainda que sempre analisa os dados da PRF para programar melhorias e aumentar a segurança nas rodovias sob sua responsabilidade. No entanto, destaca que os dados da Polícia Rodoviária Federal apontam que menos de 2% dos acidentes acontecem por problemas na rodovia.
De fato, o principal vilão é o motorista. Mais de 90% dos acidentes fatais acontecem por excesso de velocidade, falta de atenção, ultrapassagens proibidas, entre outros erros na condução do veículo. "Mesmo quando as estradas são ruins, a culpa em última instância é de quem dirige", afirma José Aurélio Ramalho, diretor do Observatório Nacional de Segurança Viária.
Para Ramalho, a formação dos condutores de veículos no Brasil é falha, limitando-se ao ensino para provas de habilitação. "Na prática, o sujeito decora um monte de placas de sinalização, mas não sabe o que fazer diante da situação indicada na placa", diz. "Desse modo, jogamos milhares de pessoas despreparadas ao volante e depois tentamos corrigir a situação com ações pontuais."
Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional dos Transportes, observa que o problema de formação de motoristas é especialmente crítico na habilitação dos condutores de caminhões e ônibus de passageiros. "A avaliação dos caminhoneiros, por exemplo, é feita com veículo descarregado e fora do ambiente de estrada", diz. Para tentar melhorar esse quadro, conta Batista, a CNT oferece cursos gratuitos de aperfeiçoamento através da rede do Sesc/Senac. "A partir de 2015 também contaremos com simuladores para aulas de direção", diz.
Para educar os motoristas, Newton Gibson, diretor da Associação Brasileira de Transporte de Cargas, defende uma fiscalização mais atuante e preventiva. "O nível de segurança nas estradas brasileiras é baixo, mas a melhoria vai além da recuperação das estradas em péssimo estado. Passa, também, pela criação de projetos que integrem as áreas da educação, engenharia, saúde, segurança pública, entre outros, através de medidas preventivas e de respeito à garantia institucional, a todos os indivíduos, de circularem livres e com segurança, também no trânsito", argumenta.
Isso também implicaria um sistema de fiscalização que fosse além das simples punições. "É preciso buscar, por meio de ações preventivas dirigidas aos usuários, resultados mais positivos com relação à segurança nas estradas", diz Gibson.
Para Rogério Cunha, presidente da Associação Brasileira de Transporte Rodoviário, falta esclarecimento sobre os motivos das punições e a gravidade das infrações. "A fiscalização, quando acontece, é apenas punitiva e não preventiva. Só multar não basta. O motorista de caminhão pega um frete de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil num trajeto de 200 quilômetros, comete uma infração e toma uma multa de R$ 53. É um tiro no pé! Ele transfere a pontuação para outro motorista e absorve o valor da multa no custo do frete."
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