Em paralelo à redução de consumo, os carros terão de diminuir as emissões de poluentes em igual proporção. A exigência do regime é que, até 2017, cada automóvel emita, em média, 135 gramas de CO² por km rodado, meta que aproxima os veículos brasileiros aos de países desenvolvidos. A Europa estabelece 130 gramas de CO² por km rodado até 2015 e 95 gramas até 2020. Já os EUA, onde veículos de grande porte como picapes e utilitários esportivos são maioria na frota, pretendem chegar a 154 gramas em 2016.
"Nosso objetivo é garantir carros equiparáveis aos lá de fora e também exportáveis", diz Bruno Jorge Soares, especialista da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Ele lembra que, por ter grande participação de veículos compactos e movidos a etanol, a frota brasileira já tem bons níveis de eficiência, "mas só isso não é suficiente para competir no mundo".
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Antonio Megale, é preciso levar em conta que a Europa tem mix maior de carros a diesel, a eletricidade e híbridos. Além disso, a gasolina local, assim como a usada nos EUA, é pura, sem a mistura de etanol, o que muda a forma de medir consumo e emissões.
Megale vê o novo regime como "ambicioso" e ressalta que "todas as montadoras terão de aprimorar seus motores com novas tecnologias como injeção direta de combustível e sistema de queima mais eficiente". Os carros terão de ser mais leves, com melhor aerodinâmica, usar pneus de baixo atrito e sistemas como o Start/Stop, que desliga o motor quando o condutor está parado no trânsito.
Carros mais eficientes são uma demanda cada vez mais urgente no Brasil. As montadoras calculam que, até 2020, os brasileiros deverão consumir entre 5 milhões e 6 milhões de veículos anualmente. Neste ano as vendas já devem atingir volume recorde de 3,8 milhões de unidades, 5% maior que o de 2011.
Com o rejuvenescimento da frota nos últimos anos, o veículos também são menos agressivos ao meio ambiente por incorporarem novas tecnologias.
Evolução. Apesar do atraso em relação aos padrões mundiais, os automóveis brasileiros já evoluíram muito nos últimos anos. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), seriam necessários 28 veículos atuais para gerar o mesmo nível de emissões de um veículo produzido em meados dos anos 80.
Com tecnologia desenvolvida no Brasil, os carros flex deram importante contribuição a esse processo. Lançado em 2003, o sistema que permite ao consumidor abastecer o tanque com etanol ou gasolina equipa mais de 80% dos veículos vendidos no País. Antes disso, em meados dos anos 70, o País também foi pioneiro na produção de veículos com motor 100% álcool.
O fato de o Brasil ter adotado a política do carro flex, porém, acaba sendo um complicador para atingir metas globais de consumo, pois são necessárias mudanças na calibração do motor, por exemplo. "Só por ser flex, nosso carro já tem consumo maior em relação ao europeu", exemplifica Alessandro Rubio, do Centro de Experimentação e Segurança Viária.
Outro combustível alternativo que reforça a matriz energética veicular brasileira é o biodiesel. Desde 2010, o diesel distribuído nos postos de todo o território tem 5% de biodiesel, obtido de óleos vegetais extraídos da soja, algodão, girassol e canola, entre outros. Assim como o etanol da cana-de-açúcar, é um produto renovável.
A indústria automobilística brasileira projeta investimentos de quase R$ 14 bilhões só para desenvolver tecnologias para atender às novas normas do regime automotivo. Com isso, o programa total de aportes previsto pelo setor para o período 2011 a 2015, que inclui novas fábricas, pode chegar a R$ 60 bilhões.
Reinaldo Muratori, da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE), admite que, mesmo atendendo aos novos requisitos, o carro brasileiro continuará atrasado em relação aos europeus, mas ressalta que "se o País continuar nessa toada, vamos estar com eles em alguns anos".
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