Escolha um local onde há faixas de pedestres e observe a relação entre as pessoas e os veículos. A precipitação e a falta de autocuidados são alguns dos principais fatores, mas a distração e a pressa parecem explicar muita coisa.
A pressa e a distração costumam ser típicas de motoristas e pedestres, com a diferença que os pedestres apressados não se esbarram e não se xingam nas calçadas tanto quanto os motoristas. Pedestre apressado não respeita sinalização: atravessa no sinal vermelho dos semáforos para veículos e nas sinaleiras para pedestres, mas cobra veementemente, e com razão, quando os condutores furam os sinais vermelhos do semáforo. O que não tira a razão dos motoristas quando algum pedestre também fura o sinal vermelho e atravessa na frente dos carros.
Assim como os motoristas, há pedestres que não têm paciência para parar na faixa e fazer uma travessia segura. Me refiro àqueles que se lançam sobre a faixa sem ter visibilidade, sem buscar o contato visual com os condutores, sem estender o braço para sinalizar a travessia, sem calcular a distância e a velocidade dos veículos. Mas, reclamam, e com razão, dos condutores que não reduzem a velocidade próximo às faixas de pedestres, que não param antes da linha de retenção, que param em cima da faixa ou que sequer param, e prosseguem no ritmo e na velocidade a quem vinham. Só que tais pedestres também perdem a razão quando fazem a mesma coisa.
É óbvio que existe uma enorme diferença entre o risco de dano e o dano propriamente dito causado a um pedestre por um veículo dada a fragilidade do corpo humano, principalmente em acidente de trânsito. Mas, há casos – os tribunais já vêm decidindo isso – em que o pedestre contribui, e muito, como causador do acidente. E, independente, de quem o tenha provocado, sempre quem leva a pior é a parte mais fraca: o pedestre.
Um simples exercício de observação nos permite enxergar as causas do problema mais de perto: veículos que furam o sinal vermelho e pedestres que fazem a mesma coisa; condutores distraídos e apressados que não demonstram a intenção de reduzir e parar para o pedestre, e pedestres distraídos e apressados, que não tomam as devidas cautelas e atravessam na frente dos carros acreditando que “vai dar”. O resultado das imprudências e negligências de cada um é o atropelamento ou outros tipos de colisões, como a colisão traseira, o abalroamento longitudinal ou até mesmo o choque com o meio fio na tentativa do condutor de tentar evitar o atropelamento.
O fato de ser atropelado em cima da faixa nem sempre significa culpa ou responsabilidade exclusiva de um só: temos que considerar o conjunto de atitudes, de comportamentos e de práticas de um e de outro, de motorista e de pedestres, pois se o motorista supostamente falhou em não sinalizar, em não reduzir e em não parar, o pedestre também pode ter falhado em não calcular a distância e a velocidade do veículo.
Pode ter falhado em não observar com cautela se vinha alguma moto trafegando no corredor entre os carros parados.
Nem sempre o fato de um condutor ter parado e ligado o pisca-alerta para a travessia das pessoas na faixa, significa que o que vem trafegando na pista ao lado fará o mesmo, e aí é onde entra a percepção e os autocuidados do pedestre. Nestes casos, atravessar a faixa com a mão estendida aumenta a probabilidade de ter uma pequena parte de seu corpo (a mão e o braço) vista pelo outro motorista.
Atravessar a faixa correndo pode até dar a sensação de que é mais seguro e de que vai ficar menos tempo exposto ao perigo, mas é uma falsa sensação de segurança, pois ao atravessar correndo o foco da atenção do pedestre está no outro lado da faixa, desviando do olhar do condutor e da aproximação dos veículos.
Outros fatores em comum a pedestres e motoristas e que torna a responsabilidade solidária para a ocorrência de acidentes é a corrida contra o tempo, o ritmo da vida moderna, as consequências de agendas lotadas, os compromissos difíceis de cumprir, ou até a mesmo a cabeça quente com algum problema profissional ou pessoal. O fato é que o que somos na vida repercute no trânsito.
Muitas brigas de trânsito que acabam em ataques de fúria e até em mortes são provocados, na maioria das vezes, por agressividade represada em que um estranho no trânsito passa a ser o motivo da despressurização e de descarga de estresse.
O comportamento, as práticas e as atitudes das pessoas no trânsito são determinantes para evitar acidentes, mas o grande desafio do século 21 e para as gerações futuras está em saber como lidar com a correria e a pressão do dia a dia. Na maioria das vezes, pedestres e motoristas sabem o que fazer e como fazer para ter autocuidados, mas não deixam de fazer o que deve ser feito por conta do modo como lidam com as pressões da vida moderna.
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